Início Tio Lautério, um Gaúcho Sepeense

Tio Lautério, um Gaúcho Sepeense

"E puxando o barbicacho, pondo o chapéu para a nuca como quem sente a mutuca levantou-se o Tio Lautério, mulato velho mui-sério, cria de Dona Maruca."

O texto e imagens a seguir são trechos do livro “Um Gaúcho Sepeense — O Tio Lautério”, de Ary Simões Pires (da Estância da Poesia Crioula), publicado em 1972.

Tio Lautério — Retrato de 1929

Tio Lautério, retrato de 1929, ao lado do Sr. Afonso Freitas Faria

Tio Lautério nasceu a 2 de junho de 1854, sendo batizado a 27 de junho de 1855 na freguezia de S. Sepé (Livro I do batismo de escravos). Filho de felicidade, escrava de Mateus José Ferreira de Faria.

Quatro anos antes da lei áurea Mateus Faria deu-lhe carta de alforria. Felicidade fôra escrava de Manoel José de Faria e Maria Esméria Simões Pires, os pais de Mateus Faria, a quem veio a tocar por herança.

No ano de 1929, recebemos dos atuais proprietário da fazenda do Sítio, situada no 1o. Distrito de São Sepé, o retrato do tio Lautério que acompanha esta crônica.

Tio Lautério morreu em 1942, com 88 anos de idade.
Está enterrado o tio Lautério em campos do sítio (Sesmaria do Boqueirão).

Mateus Faria

Mateus Faria, casado com Umbelina Freitas, os primeiros patrões do Tio Lautério.

Havíamos tomado, então, o propósito de divulgar algum dia, se fosse possível, o que era conhecido quase que apenas na terra natal do mulato velho mui-sério, cria da tia “Maruca”: que tio Lautério conquistara a estima de Ramiro Barcelo e este, ao desenhar no grande poema gauchesco o narrador das rondas, dera-lhe o nome de peão humilde do Sítio, demonstração de amizade e saudosa evocação, como se ao relembrá-lo lá longe, nos grandes centros, dele viesse a representação do Rio Grande guapo e rude, sóbrio e tranquilo esparramado pelas estâncias e ranchos das coxilhas.

Somente em 1945 publicamos o retrato referido junto à crônica “Tio Lautério — Don Segundo Sombra e Matin Fierro — gaúchos modestos que a literatura imortalizou”, no livro “Sombra de Umbú”. Esta crônica foi repetida no livro “Gado de Osso”, em 1956, de cuja distribuição foi encarregada a Livraria e Editora Sulina, de Porto Alegre.

O ilustre historiador, poeta e crítico literário dr. Walter Spalding, fez este comentário no “Jornal do Dia”, da capital riograndense: “(…) no qual nos mostra que esses três personagens famosos da literatura sul americana não foram ficção mas existiram realmente. Quanto a don Segundo e Martin Fierro nós mesmos a propósito do herói de Hernandez publicamos um documento em que o seu nome figurava como soldado e trovador gaudério. Quanto ao personagem de Amaral Juvenal, cremos ser novidade a revelação do Sr. Ary Simões Pires. Pelo menos nós ignoravamos sua real existência na fazenda dos Faria. Pena é que já tenha morrido, com quase cem anos, pois seria o caso de consagrar-se em definitivo o contador que sabia dar a alma à cordeona “com um gôsto que parecia que tinha dentro um mistério”.

Capitão Afonso Faria

Capitão Afonso Faria, veterano do Paraguai, um dos patrões do Tio Lautério.

O jornal sepéense “A Palavra” reproduziu esta crítica. E a não ser cartas que comentavam a existência do tio, tudo ficou apenas nisso. A tradição tirava um peludo brabo, cultivada, apenas, sem alardes, no fundo do coração dos “incorrigíveis”. A fundação do “35 C.T.G.” na capital do Estado foi um chamado para a ressurreição do que era nosso, e que ia águas abaixo. Presentemente, em 1957, pode-se aquilatar o que representou a fundação daquele grêmio. E como resultado reaparece o interesse.

Sentimos que chegou a hora do tio Lautério, isto é, quando ele vai aparecer não só como o personagem do livro de Ramiro tão conhecido, aliás, mas como o dono desse personagem, o caboclo sepeense que existiu realmente. Em junho do corrente ano o Sr. Artur Ferreira Filho, historiando com minúcias, os motivos que levaram Amaro Juvenal a escrever o poema, referiu-se à fazenda do Sítio, a São Sepé e às viagens a cavalo que faziam juntos o autor de Antônio Chimango e o posteiro do Sítio que servia de vaqueano àquele em visitas médicas pela campanha.

Casa no campo do "Sítio" Sesmaria do Boqueirão

Casa no campo do “Sítio” Sesmaria do Boqueirão, antiga estância do Cel. Veríssimo Simões Pires, veterano do Paraguai.

Igualmente recente foi o honroso pedido a nós dirigido pelo Sr. capitão Artur Cunha Alves, presidente do Centro de Tradições Tio Lautério, de São Leopoldo. S.S. dizendo ter sido informado de ter existido de fato o tio velho, e ser natural de São Sepé, sabendo termos publicado algo a respeito, solicitava mais esclarecimentos. Remeti-lhe a crônica já referida, incluida em “Gado de Osso”, e, então, por intermédio da Secção de Divulgação daquele grêmio Leopoldense foram os presentes a uma reunião informados sôbre a história do tio Lautério, patrono daquele C.T. Gaúchas.

Apanhado geral da contra-capa e páginas 3 e 4 do livro “Um Gaúcho Sepeense — O Tio Lautério”, de Ary Simões Pires (1972). Se desejar maiores informações, por favor entre em contato com a equipe de marketing da Arrozeira Sepeense.

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