O texto e imagens a seguir são trechos do livro “Um Gaúcho Sepeense — O Tio Lautério”, de Ary Simões Pires (da Estância da Poesia Crioula), publicado em 1972.
Tio Lautério nasceu a 2 de junho de 1854, sendo batizado a 27 de junho de 1855 na freguezia de S. Sepé (Livro I do batismo de escravos). Filho de felicidade, escrava de Mateus José Ferreira de Faria.
Quatro anos antes da lei áurea Mateus Faria deu-lhe carta de alforria. Felicidade fôra escrava de Manoel José de Faria e Maria Esméria Simões Pires, os pais de Mateus Faria, a quem veio a tocar por herança.
No ano de 1929, recebemos dos atuais proprietário da fazenda do Sítio, situada no 1o. Distrito de São Sepé, o retrato do tio Lautério que acompanha esta crônica.
Tio Lautério morreu em 1942, com 88 anos de idade.
Está enterrado o tio Lautério em campos do sítio (Sesmaria do Boqueirão).
Havíamos tomado, então, o propósito de divulgar algum dia, se fosse possível, o que era conhecido quase que apenas na terra natal do mulato velho mui-sério, cria da tia “Maruca”: que tio Lautério conquistara a estima de Ramiro Barcelo e este, ao desenhar no grande poema gauchesco o narrador das rondas, dera-lhe o nome de peão humilde do Sítio, demonstração de amizade e saudosa evocação, como se ao relembrá-lo lá longe, nos grandes centros, dele viesse a representação do Rio Grande guapo e rude, sóbrio e tranquilo esparramado pelas estâncias e ranchos das coxilhas.
Somente em 1945 publicamos o retrato referido junto à crônica “Tio Lautério — Don Segundo Sombra e Matin Fierro — gaúchos modestos que a literatura imortalizou”, no livro “Sombra de Umbú”. Esta crônica foi repetida no livro “Gado de Osso”, em 1956, de cuja distribuição foi encarregada a Livraria e Editora Sulina, de Porto Alegre.
O ilustre historiador, poeta e crítico literário dr. Walter Spalding, fez este comentário no “Jornal do Dia”, da capital riograndense: “(…) no qual nos mostra que esses três personagens famosos da literatura sul americana não foram ficção mas existiram realmente. Quanto a don Segundo e Martin Fierro nós mesmos a propósito do herói de Hernandez publicamos um documento em que o seu nome figurava como soldado e trovador gaudério. Quanto ao personagem de Amaral Juvenal, cremos ser novidade a revelação do Sr. Ary Simões Pires. Pelo menos nós ignoravamos sua real existência na fazenda dos Faria. Pena é que já tenha morrido, com quase cem anos, pois seria o caso de consagrar-se em definitivo o contador que sabia dar a alma à cordeona “com um gôsto que parecia que tinha dentro um mistério”.
O jornal sepéense “A Palavra” reproduziu esta crítica. E a não ser cartas que comentavam a existência do tio, tudo ficou apenas nisso. A tradição tirava um peludo brabo, cultivada, apenas, sem alardes, no fundo do coração dos “incorrigíveis”. A fundação do “35 C.T.G.” na capital do Estado foi um chamado para a ressurreição do que era nosso, e que ia águas abaixo. Presentemente, em 1957, pode-se aquilatar o que representou a fundação daquele grêmio. E como resultado reaparece o interesse.
Sentimos que chegou a hora do tio Lautério, isto é, quando ele vai aparecer não só como o personagem do livro de Ramiro tão conhecido, aliás, mas como o dono desse personagem, o caboclo sepeense que existiu realmente. Em junho do corrente ano o Sr. Artur Ferreira Filho, historiando com minúcias, os motivos que levaram Amaro Juvenal a escrever o poema, referiu-se à fazenda do Sítio, a São Sepé e às viagens a cavalo que faziam juntos o autor de Antônio Chimango e o posteiro do Sítio que servia de vaqueano àquele em visitas médicas pela campanha.
Igualmente recente foi o honroso pedido a nós dirigido pelo Sr. capitão Artur Cunha Alves, presidente do Centro de Tradições Tio Lautério, de São Leopoldo. S.S. dizendo ter sido informado de ter existido de fato o tio velho, e ser natural de São Sepé, sabendo termos publicado algo a respeito, solicitava mais esclarecimentos. Remeti-lhe a crônica já referida, incluida em “Gado de Osso”, e, então, por intermédio da Secção de Divulgação daquele grêmio Leopoldense foram os presentes a uma reunião informados sôbre a história do tio Lautério, patrono daquele C.T. Gaúchas.
Apanhado geral da contra-capa e páginas 3 e 4 do livro “Um Gaúcho Sepeense — O Tio Lautério”, de Ary Simões Pires (1972). Se desejar maiores informações, por favor entre em contato com a equipe de marketing da Arrozeira Sepeense.